O 3º Salão de Arte em Pequenos Formatos/2022, a partir do centro-oeste brasileiro, consolida no noroeste goiano um lugar de discussão e reflexão sobre a produção de arte contemporânea. No intuito de estimular a produção regional e nacional em artes visuais, incentivando a circulação de obras formalmente pequenas e por isso capazes de atravessar o tempo e o espaço.
O SAPF tem o objetivo de construir uma coleção de arte contemporânea que acompanha as tendências e movimentos do circuito artístico brasileiro, desde sua primeira edição em 2019 seleciona trabalhos de artistas de todas as regiões do país.
Nesta edição queremos pensar quanto do mundo pode caber em um curto tempo ou pouco espaço? O Salão visa selecionar 14 artistas que receberão o prêmio de participação de 1 mil reais para cada um, sendo que 6 prêmios aquisição de 6 mil reais cada, totalizando 50 mil reais de premiação geral. Nesta edição, o Salão será realizado em uma plataforma virtual. Vale ressaltar que a ação fomenta ainda a programação da menor cidade do Brasil a possuir um museu de arte.
Divino Sobral
Realizada em conformidade com as diretrizes da Lei Aldir Blanc, a terceira edição do Salão de Arte em Pequenos Formatos apresenta a exposição virtual composta por trabalhos de 14 artistas, sendo 50% do elenco residente em Goiás. Concebido como estratégia de formação do acervo do Museu de Arte de Britânia, cidade localizada na região do Vale do Rio Vermelho, o Salão é, portanto, compromissado com a descentralização e com a interiorização do circuito de arte no Estado.
O Salão dialoga com a produção de arte contemporânea brasileira visando extrair, por meio das premiações, um extrato significativo de obras que passam a integrar o acervo do MABRI. O objetivo é constituir uma coleção pública que seja testemunha, produto e reflexo dos questionamentos atuais, e que, inserida em Britânia, seja instrumento, continuamente atualizado, de enriquecimento cultural, de formação de público para arte e de transformação da mentalidade da cidade.
A singularidade do Salão está em evidenciar a relevância e a complexidade do conceito de escala na constituição do trabalho de arte, em pensar as especificidades do pequeno formato nas categorias bidimensional e tridimensional, bem como da curta duração na mídia videográfica. Aceitar os desafios propostos pelo Salão implica em compreender as relações entre a natureza da poética e as propriedades do espaço ou do tempo, entre o sentido e o tamanho da obra, para tirar partido dos problemas ou das vantagens do diminuto.
Na história da arte contemporânea brasileira encontramos obras cujo tamanho não é dado apenas pelas medidas do suporte como mera formalidade, mas é encarado como um elemento de potência simbólica integrado na materialidade da obra. Cildo Meireles (1948) tem trabalhos bastante instigantes que articulam de maneira exemplar a pequena escala: fazendo referência à cosmogonia do povo Tupi, Cruzeiro do Sul (1969–1970) é um minúsculo cubo com 9 milímetros de aresta que quase se perde na amplidão do espaço vazio em que é exposto; a ínfima moeda de Zero Centavo (1974–1978) abre uma enorme discussão sobre as ligações entre economia e política; na intervenção urbana Paulista 97 (1997), parafusos de ouro são inseridos nas pedras do calçamento da monumental Avenida Paulista; nessas obras de Meireles o pequeno é imbrincado pelo grande. No meio dos experimentalismos que marcaram os anos 1970, Paulo Bruscky (1949) lançou mão da escala reduzida aceita nos serviços de correios para ativar a arte postal, modalidade que prescindiu da institucionalização dos museus e galerias, que escapou do aparelho de censura da Ditadura Militar e que muito contribuiu para ampliação do conceito e do sistema de arte. Pioneira no campo da videoarte, Letícia Parente (1930–1991) realizou a obra Tarefa 1 (1982), que tem duração de pouco mais de 1 minuto, cruzando performance e vídeo em um experimento de arte que reflete sobre o corpo e as atividades do cotidiano. Leonilson (1957–1993), em El puerto (1992), cobriu um espelho vulgar com singela cortina feita de retalho de um lençol usado, e com poucos procedimentos impregnou o objeto de lirismo, intimidade e afetividade. As obras acima mencionadas mostram como a escala integra o sentido, como se comporta como um elemento da linguagem intrinsecamente ligado à poética e à natureza da obra.
As discussões que o Salão pretende levantar gravitam em torno do entendimento contemporâneo sobre o pequeno formato. Não procura pela obra menor ou pela miniatura que é produto do encolhimento do grande formato, mas busca pelo pequeno formato que é capaz de revelar a paradoxal grandeza de sentido nele contida, porque, afinal, ele não é insignificante. Na contramão da espetacularização, o Salão deseja ser a instância acolhedora das experimentações atuais em pequena escala, almeja mostrar como os artistas enfrentam materiais, símbolos, vivências, memórias e lugares, formatando suas obras em espaço diminuto e em curta duração.
Britânia está a mais de 300 km de Goiânia, no interior do interior do Brasil. O 3º Salão do MABRI ao voltar seu olhar para produções de arte provenientes de cidades interioranas, comprova que a arte brasileira contemporânea está sendo feita em cidades que não gozam dos privilégios das capitais, logo com poucas oportunidades para a profissionalização dos artistas. As cidades do interior são também pequenas, mas cheias de grandezas culturais. Metade do elenco do 3º Salão de Arte em Pequenos Formatos é constituído por artistas que vivem em cidades do interior brasileiro: Anápolis (GO), Aparecida do Taboado (MS), Goiás (GO), Juazeiro do Norte (CE), Planaltina (GO). E quase metade das obras tem a origem de seus assuntos em cidades do interior ou na zona rural. Ao acolher a produção interiorana, o Salão evita adotar práticas colonialistas reproduzidas no Brasil, de superestimar a produção do chamado eixo sudestino e dos grandes centros, em detrimento da chamada produção do interior. Essa é uma postura política que opera nas bordas para o descentramento do debate sobre o que é a arte brasileira.
Curadoria / Texto Crítico
Divino Sobral
Desenvolvimento da exposição online
Sharmaine Caixeta
Lucas Ywamoto
Comissão de seleção
Divino Sobral
Gilson Plano
Marco Antonio Vieira
Marília Panitz
Comissão de premiação
Divino Sobral
Gilson Plano
Fernanda Pitta
Coordenação geral
Malu da Cunha
Coordenação executiva
Gilson Plano
Acompanhamento Técnico
Adriano Braga
Assessoria de Comunicação
Aline Borba – Seven Star
Design gráfico
Sharmaine Caixeta
Lucas Ywamoto
Este projeto foi contemplado pelo Edital de Artes Visuais – Lei Aldir Blanc – Concurso nº 03/2021 – Secretaria de Cultura – Governo Federal
SAPF MABRI | Todos os direitos reservados | Desenvolvido por Sharmaine Caixeta e Lucas Ywamoto
É historiadora da arte, docente do MAC-USP. Foi bolsista da FAPESP, Fellow da AAMC e AAMC Foundation, Clark Art Institute, Biblioteca Getty e Visiting Scholar na Fakultet for kunst, musikk og design, Noruega. É coordenadora, com Susanna van der Watt e Lizabé Lambrechts, do projeto de pesquisa Decay Without Mourning: Future-thinking heritage practices, com financiamento do Riksbankens Jubileumsfond, realizado na Pinacoteca de São Paulo em parceria com o MAC-USP. Foi consultora da mostra Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil, em cartaz até agosto no Sesc 24 de maio, São Paulo.
É artista e gestor cultural, desenvolve trabalhos e pesquisa na intersecção de escultura, ação e narrativas. Doutorando no programa de pós-Graduação em artes da UERJ, Fez parte dos programas: formação e deformação da EAV Parque Lage – 2019; Pivô Arte e Pesquisa – 2021#3 – 2021. investiga em sua produção artística o imaginário sobre a história do corpo preto acompanhadas das idéias de peso, ficção e encantamento. Atualmente é coordenador geral do Galpão Bela Maré.
É Doutor em Arte, na linha de Teoria e História da Arte, pela UnB. Curador independente desde 2007. Professor em nível de graduação e pós-graduação em diversos estados brasileiros. Em sua pesquisa, a Teoria, a História e a Crítica de Arte são objeto de constante revisão, a partir dos abalos do ‘giro decolonial’ e de suas imbricações e fricções interseccionais de sexo, gênero, classe e inserção geopolítica. Interessam-lhe as relações interhistóricas, interartísticas e interdisciplinares que desafiem a episteme encarnada pelo saber em torno da arte e pela práxis artística no Ocidente.
Mestre em Arte Contemporânea: teoria e história da arte, foi professora na Universidade de Brasília, de 1999 a 2012. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília. De 1994 a 2013, atuou como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições. Atua como crítica de arte e curadora independente, com projetos como: Felizes para Sempre, Coletivo Irmãos Guimaraes BSB, Curitiba e SP, 2000/2001; Gentil Reversão, BSB, RJ 2001/2003; Rumos Visuais Itaú Cultural 2001/03 e 2008/10; Azulejos em Lisboa Azulejos em Brasília: Athos Bulcão e a azulejaria barroca, Lisboa, 2013; Vértice – Coleção Sergio Carvalho, nos Correios em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo 2015| 2016; 100 anos de Athos Bulcão CCBB Brasilia, Belo Horizonte São Paulo e Rio de Janeiro, 2018-9; O Jardim de Amilcar de Castro: neoconcreto sob o céu de Brasília, no CCBB-Brasila, 2022-24.
Realiza projetos com ênfase na produção artística do Distrito Federal e na formação de uma visualidade determinada pela cidade nova; e em mapeamento da cena cultural de espaços não hegemônicos.
Marília Panitz foi professora ao Instituto de Arte da Universidade de Brasilia ,até 2013. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília. Pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições. Atua como crítica de arte e curadora independente, realizando projetos com ênfase na produção artística do DF.